quarta-feira, 3 de março de 2010

Me Chamem de Irmão!



Era o ano de 2003, em uma tarde comum de trabalho no escritório da Terceira Igreja Batista de Belo Horizonte. Cumpria meus compromissos como pastor-auxiliar ao ser surpreendido pela visita do nosso Pr. João Leão, que logo veio me perguntando: “Francinaldo, você não gostaria de participar do Congresso da SEPAL em Águas de Lindóia? Eu não posso ir e queria que você tivesse esta oportunidade”.
Senti o coração bater mais forte e, de pronto respondi: “Sim, claro que gostaria”. Sabia que era a oportunidade de estar com líderes que só conhecia através de seus escritos, tais como, Pr. Ary Veloso, Pr. Ariovaldo Ramos, Jaime Kemp, Ricardo Agreste, entre outros e, especialmente, o ir. André da Missão Portas Abertas, muito conhecido pelo seu livro – “O Contrabandista de Deus”. Ele seria a atração principal deste Congresso. Quando eu teria uma outra oportunidade assim? Logo tratei de avisar minha esposa e me preparar para a tal viagem. Naqueles dias que se seguiram, em minha memória trazia as lembranças dos muitos artigos, livros e sermões que já havia lido do Ir. André. Eu me inspirava muito em seus escritos, sentia meu coração arder ao ler seus testemunhos e “aventuras missionárias”. Agora, teria a chance de vê-lo pessoalmente. Não conseguia conter a ansiedade de realizar este sonho.
Enfim, chegou o dia da viagem. Combinei com o Pr. Roberto da 8ª Igreja Presbiteriana de BH, para irmos juntos. Ele me apanhou e seguimos viagem, entusiasmados com tudo o que iríamos experimentar! A viagem foi tranqüila e, chegando em Águas de Lindóia/SP, logo na recepção do hotel, encontrei o Pr. Ariovaldo Ramos em companhia do Pr.Ary Veloso. Eles nos cumprimentaram de forma muito simpática e, em seguida fomos levados ao hotel onde ficamos naqueles dias. Me senti muito importante, afinal estava em meio a líderes de grande expressão em nossa nação.
Tudo estava muito agradável, o hotel, os restaurantes, a recepção, os momentos de intervalo entre uma reunião e outra, mas, em meu coração havia uma motivação maior: queria mesmo ver e ouvir o Ir. André.
Afinal, chegou o dia...me dirigi ao salão de palestras naquela noite com o coração disparado. Começou o período de louvor, por sinal com muita unção, com o cantor e compositor Jorge Camargo. O ambiente era de muita expectativa. Já haviam anunciado que o Ir. André estava presente, porém, por mais que me esforçasse, não conseguia identificá-lo em meio a tanta gente. Com os olhos, procurei-o no palco, nas primeiras fileiras, aonde podia alcançar minha visão, e nada! Imaginei: “Ele deve ser um homem de grande estatura, já que é holandês. Pela idade deve ter cabelos bem brancos”.
Encerrado o louvor e, depois de alguns avisos, um dos líderes da Missão Portas Abertas no Brasil, subiu ao palco e anunciou que o Ir. André teria a oportunidade de nos falar naquela noite...como se todos nós não soubéssemos disso! Chegou o grande momento!
De repente, um senhor de pequena estatura, magro, cabelos bem brancos, usando uma calça marrom de tecido comum, com uma camiseta de malha da SEPAL, sobe ao palco e é ovacionado por todos. Percebi então, que o Ir. André não era tudo aquilo que eu idealizei. Não me senti frustrado, mas curioso para ouvir sua mensagem. Então, aquele homem aparentemente tão frágil, de vestes tão simples, - o que contrastava com a roupagem de seus ouvintes – começou a ministrar aos nossos corações uma das mensagens mais simples e mais poderosas que já tive a oportunidade de ouvir.
Fiquei ali bebendo as palavras daquele homem simples, de linguagem simples, fala mansa, conclusões lógicas, enfim, o tempo parecia não passar. Foi uma noite surpreendente! Voltei para o quarto de hotel aquela noite, com a impressão de que havia um evangelho que eu ainda não experimentara. Dormi intrigado com tudo que vivi naquela noite.
Na manhã seguinte, logo após o café-da-manhã, tomei rumo ao salão de plenárias mais uma vez. Em meu coração o desejo de absorver mais da mensagem do Ir. André.
Chegando lá, tomei lugar onde poderia ver mais de perto a palestra. Chegado o momento de recebermos mais uma mensagem, o Ir. André subiu ao palco, com as mesmas roupas da noite anterior e começou a nos falar. Dentre as muitas especiarias que pudemos colher naquela manhã, ele nos desafiou a encarar o mundo e suas necessidades com o olhar, a atitude que Jesus teria em nosso lugar, bem como, a solução de Deus para com essas necessidades. Levando-nos a enxergar a oportunidade que o Senhor Jesus nos dá de nos tornarmos resposta para tais necessidades. Falou-nos ainda, da Igreja Perseguida ao redor do mundo e também da liberdade que gozamos em nossa nação, em nosso continente. Foi uma manhã desafiadora pra todos nós!
Porém, havia mais de Deus pra nós, pra mim, pessoalmente.
Após encerrar a plenária, houve oportunidade para que se fizesse perguntas ao Ir. André. Em determinado momento, alguém ergueu a mão, pedindo oportunidade de fazer uma pergunta. Então disse assim: “Pastor André, me responda por favor”. Neste instante, o Ir. André interrompeu a pergunta do irmão e disse: “Em muitos países por onde passo, as pessoas me dão vários títulos. Me chamam de Pastor, Doutor, entre outros. Permitam-me esclarecer uma coisa, eu não tenho nenhum título pelo qual desejaria ser tratado. Portanto, ME CHAMEM APENAS DE IRMÃO, IRMÃO ANDRÉ!”
Durante algum tempo, fez-se silêncio no salão. Alguns segundos talvez, mas, para mim o tempo parece ter parado, me dando oportunidade de refletir naquelas simples palavras: “Me chamem de Irmão, Irmão André”. Pouco depois de encerrada a plenária, me dirigi para um grupo menor de discussão que seria moderado pelo Pr. Ariovaldo Ramos. Quando nos assentamos, ainda respirava aquelas palavras simples, mas, intrigantes. Mesmo ali, assentados, todos estavam em silêncio. As palavras do Irmão André naquela manhã, pareciam nos esbofetear. O Pr. Ariovaldo levou um tempo para começar a falar com o grupo, percebíamos um embargo em sua voz, quando se dirigiu ao grupo dizendo: “Meus irmãos, depois de ouvirmos as palavras do Ir. André nesta manhã, o sentimento que tenho é de que deveríamos todos arrumar nossas malas e voltar pra nossas casas e Igrejas. Repensar os nossos valores, onde estamos empenhando nossas forças, que evangelho estamos vivendo. Vivemos em um tempo em que muitos tem buscado ser reconhecido pelo título que possui e, muitos tem procurado ser chamados de Apóstolos, enquanto aquele que merecidamente deveria ser tratado como um apóstolo dos nossos dias, deseja tão somente ser chamado de Irmão!” Ele concluiu dizendo: "Precisamos nos arrepender e voltar ao Senhor”. Inclinamos nossas cabeças, oramos e choramos por um longo tempo naquela manhã.
Foi uma manhã muito especial! Marcou minha vida.
Sejamos simples, porém, firmes, assim como é o nosso Jesus. Ele foi chamado de Mestre, Senhor, Rabi, Profeta, Sacerdote, Rei dos Judeus, até mesmo de Belzebu, mas seu único desejo era o de ser reconhecido por todos como o Cristo, o Filho de Deus.
Sejamos puros e retos de coração. Sejamos Sal e Luz neste mundo. Sejamos pedras vivas, colocadas sobre a Pedra Angular, construindo o Reino de Deus e, levando Sua luz ao mundo.
Que sejamos uma Igreja Viva! Assim como era a Igreja Primitiva – Uma Igreja Leve, Ágil e Feroz na proclamação do Reino de Deus!
Que vivamos para o Reino de Deus!
A Ele seja toda a Glória! E que sejamos conhecidos como Irmãos!

Sola Gratia
Sola Fide
Soli Deo Glória!

3 comentários:

Pr. Luiz Fernando disse...

Prezado colega Pr. Francinaldo,
excelente seu blog. Realmente Deus nos surpreende com coisas simples e impactantes. Belíssima experiência e aplicável para toda igreja.
Continue nesta empreitada, pois, aqui na blogsfera existe um campo enorme para divulgarmos o Reino de Deus.
Um abraço
Em Cristo

blog da Carla disse...

pastor adorei o blog.Que Deus continue a ti usar.
você é uma benção e que todos vejam a luz de Deus sobre vc e sobre sua família que é linda demais.Amo vcs.

Pr. Lenilson de Souza disse...

Francinaldo, gostei muito do testemunho. Fique firme nessa obra. Deus é contigo!